sábado, 19 de maio de 2012

Postura e condiconamento físico

Como mencionei no último texto, sobre técnica vocal e canto, existem fatores físicos que devem ser trabalhados para o melhor desempenho do cantor. Postura, respiração, articulação dos sons, controle muscular laríngeo, etc. Tais elementos fazem parte da nossa vida cotidiana, mas não da mesma forma que são usados para cantar.

Vivemos em uma sociedade agitada, com horários, compromissos, metas, escritórios, cadeiras desconfortáveis, computadores, televisão, videogames, sedentarismo, má alimentação, pressa, etc. Esse estilo de vida altera nosso corpo, muda nossa postura e, consequentemente, afeta o canto.

Uma má postura desalinha a coluna cervical, modifica a posição e funcionamento dos músculos, comprime órgãos e espreme veias e artérias. O corpo é interligado, uma massa uniforme que se move em conjunto, uma tensão em determinado ponto atinge todo o resto. Um pé torto gira a perna, que movimenta a bacia, alterando a posição da coluna e dificultando a respiração. A coluna desviada pode causar diminuição do espaço do estômago e intestinos, dificultando a digestão. A má postura comprime o sistema circulatório diminuindo a oxigenação de diversas partes do corpo, inclusive do cérebro, o que piora a capacidade de aprendizagem das crianças nas escolas, por exemplo.

Os efeitos negativos disso são vários e já muito estudados, eu ficaria meses listando como pode ser danosa à vida uma postura incorreta, mas vou focar o assunto na voz, que é o que nos interessa aqui.

Falei anteriormente que para cantar é preciso desenvolver o corpo como um todo, e a postura pode ser vista como um elo de ligação entre o todo, visto que ela pode prejudicar a oxigenação do sistema fonatório, dificultando seu trabalho. Pode dificultar a respiração limitando o movimento diafragmático e abdominal (próximo texto abordará esse assunto). Pode sobrecarregar o trabalho muscular do pescoço, que está diretamente ligado à laringe e as pregas vocais e altera a posição dos articuladores da voz (mandíbula, língua, etc.) criando tensão excessiva onde deveria haver liberdade, criando o que chamamos de desvios vocais, alterações que modificam as características sonoras do nosso instrumento vocal.
Observe os desenhos acima, tente deixar seu corpo nessas posições (talvez já esteja em uma delas) e produza um som qualquer, segure a vogal “A”, por exemplo, com o corpo em cada umas dessas posições. Repare como a postura altera o som final. Ombros rígidos, coluna arqueada, joelhos travados para trás, pescoço projetado para frente, para trás, corpo apoiado em uma perna só, etc. são algumas das posições que devemos evitar.

Os danos vão muito além, como esses fatores afetam enormemente a voz, o indivíduo passa a achar que não serve para cantar, que não tem aptidão ou talento para a coisa, simplesmente pelo fato de não se atentar ao fator corporal, ou não receber instrução correta a esse respeito, gerando, somado ao problema vocal, uma perturbação psicológica que acaba desanimando a pessoa, criando barreiras e empecilhos para que ela possa fazer o que gosta.

Aí entra a importância de um bom condicionamento físico, às vezes somente atenção à postura não resolve. Aquela coisa de mãe, “senta direito menino”, nos deixa eretos por 5 segundos, e depois o corpo é “largado” de novo. Talvez seja preciso mais do que atenção, talvez seja preciso exercício físico. E nesse sentido alguns são mais indicados que outros. Esportes que concentram força nos ombros não são muito recomendados por gerar tensão nessa região, como musculação, basquete, tênis, remo, etc. Já os alongamentos, técnica de Alexander, corridas e caminhadas tendem a condicionar o corpo sem enrijecer ombros e pescoço.

Estilos musicais como o rock, teatro musical, axé, heavy metal, variantes do gospel e sertanejo, etc. podem ser bastante exigentes fisicamente, como esportes de alta performance. Para tal, o condicionamento físico é mais importante ainda, tendo efeito direto sobre a resistência vocal e respiratória do cantor, principalmente durante performances ao vivo, onde a demanda energética é grande.

3 comentários:

  1. Muito boa explanação! Uma atenção que tenho aguçada no tempo que dou aula, é a rigidez das musculaturas cervicais, as vezes a coluna está ereta, mas a forma de tensionar o ombro não ajuda na liberdade da região cervical.

    Uma pergunta man. Sabe dizer que se existe um livro específico que explane em miúdos a técnica de Alexander? Valeu, abraço!

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    1. Tem razão, muita gente combina postura ereta com auqela ideia militar, dura, mas o que a gente quer é uma postura ereta e livre.

      Existem sim, inclusive alguns escritos pelo próprio Alexander!

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